As pausas são ótimas para descansar, pensar e recomeçar. Mas são melhores ainda porque nos permite olhar e ver o mesmo lugar com uma nova perspetiva e renovar as relações com as mesmas pessoas quando regressámos ao ponto de partida.
Os nossos costureiros trabalham com os materiais que têm, sejam novos ou antigos. Mas ficam verdadeiramente felizes quando são presenteados por algo que sabem que foi feito para eles.
Nem todos os presentes precisam de ser embrulhados. Mas todos deveriam ser entregues com carinho. Obrigado Sofia e Dina.
As máquinas de costura estiveram paradas durante 3 sábados. A época natalícia e a semana em casa imposta pelo Governo fez com que as portas do CCV se mantivessem fechadas até hoje.
Regressámos cheios de vontade para recomeçar. Nós e eles. As mãos e os pés equilibram o som do motor das máquinas. Um silêncio suave tomou conta da sala, dissipando as dúvidas e costurando a todo o vapor.
É um novo ano. Uma nova etapa. Novas peças se adivinham.
É um desafio fazer uma Feira num bairro social. Não sabemos quantas pessoas podem aparecer. Quantas pessoas irão comprar as peças. Quem se quer juntar a nós. É tudo um enigma. Ainda assim, insistimos em avançar. Montámos a nossa pequena banca no cimo dos degraus que ficam no final da rua das Mães d’Água, para que todos pudessem ver-nos e ali ficámos à espera.
Foi uma tarde fria, com um sol a tentar aquecer-nos a alma. As nossas costureiras fizeram questão de marcar a sua presença, trazendo consigo as suas famílias. Quem por lá passou ficou a conhecer-nos. Para quem não teve a oportunidade de ir ao Bairro do Zambujal, brevemente teremos mais peças e mais padrões para vos mostrar. Não vão querer perder uma próxima feira nossa, seja ela onde fôr.
A arteGENTES orgulha-se de partilhar com o público os trabalhos que os nossos costureiros têm vindo a desenvolver ao longo de 8 sábados. Ainda estamos no início, mas as mãos destes costureiros criam maravilhas!
Já passaram 7 sábados desde que iniciámos a arteGENTES no Bairro do Zambujal. Já é altura de falarmos sobre nós, de como chegámos até aqui.
Estávamos no início da pandemia quando sonhámos este projeto. Para trás ficou o Guiúa (Moçambique) com um sentimento de enorme gratidão por termos ajudado um grupo de costureiros. Com a quarentena obrigatória, as reuniões on-line serviram de suporte para sonhar um novo recomeço. Sempre com incertezas. Onde? Como? Quem? E se…?
Fomos juntando as peças, agregámos pessoas e somámos vontades. Sempre ao nosso ritmo. Foi-nos sugerido submeter o projeto ao BPI. Não queríamos. Nem ao BPI nem a nenhuma outra instituição. Talvez por medo. Certamente por falta de experiência.
Insistiram novamente. Aceitámos. Sempre com medo. E se o BPI aprovar?
O BPI aprovou, deixando-nos com receios, mas sobretudo com o desejo de fazer o bem, bem feito. Ainda melhor. E assim o fazemos. E assim o teríamos feito, mesmo sem este apoio financeiro. Porque somos assim. Porque acreditamos que devemos dar tudo o que temos e tudo o que somos. Ao projeto, a quem agregámos, a quem nos apoia.
Somos uma equipa de pessoas entusiasmadas, com o desejo de partilhar e ver este projeto crescer a cada sábado que passa.
Temos a bênção de ter voluntários connosco. Ouviram falar da arteGENTES, do Bairro do Zambujal e da COMUZA. Interessaram-se, quiseram saber e apareceram. Assim fez a Sofia, que por conseguinte trouxe a sua mãe, a Dina.
São dinâmicas, desenrascadas, prontas para ajudar no que fôr preciso. Fazem parte do projeto desde o primeiro dia. Têm sido uma ajuda preciosa. Não vivem no bairro e não falham nos horários. Impecáveis.
Num destes sábados apareceu o Filipe, o nosso técnico. É quem nos arranja as máquinas de costura sempre que é necessário. Mas como nos saiu a sorte grande, também percebe de costura.
É constantemente chamado. Às vezes por tudo, outras vezes por nada. Mas sempre presente, com a chave de fenda numa mão e linha na noutra. Sempre disponível para ajudar. No sábado seguinte apareceu a Maria José, a mãe do Filipe, costureira e curiosa por conhecer o projeto. Primeiro veio como visita. Agora ficou como voluntária. Que sorte a nossa.
Desconfiamos que gostam de nós, dos costureiros e do projeto. Por que outro motivo reservariam os sábados à tarde para a arteGENTES?
É verdade que a arteGENTES acontece no Bairro do Zambujal. Inicialmente seria um projeto destinado a mulheres. Jovens mulheres desempregadas com as idades compreendidas entre os 20 e os 30 anos. Havia muitas quando sonhámos o projeto para o bairro durante o confinamento obrigatório. Depois desta imposição muitas imigraram para fora do país em busca de melhores condições de vida. Outras encontram-se empregadas durante o fim-de-semana, enquanto estudam de segunda a sexta.
Sim, a arteGENTES acontece no Bairro do Zambujal. Não são só mulheres. Temos também um homem. Costura connosco porque gosta. Não quer ficar parado em casa. Não se contenta com a televisão da sala enquanto o tempo avança.
A arteGENTES acontece no nosso bairro com um homem e muitas mulheres. Mulheres jovens, acima dos 30 anos. Nada as impede de ir costurar. Aparecem. Sentam-se. Costuram. Conversam. Partilham. Ensinam. Orgulham-se.
Por aqui andam a preparar maravilhas. As máquinas estão imparáveis.
Estão constantemente a chamar a professora. Qual é o ponto? Onde costuramos? Posso escolher uma capulana? Porque é que a máquina parou? Não consigo pôr a linha na agulha… Enganei-me a costurar…
São muitas as dúvidas e as inseguranças, mas as máquinas não param e quando damos por isso – puf – terminaram de costurar um saco! Depois do primeiro veio o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto…
Hoje foi dia de festa. Fizeram sacos de pano. Do princípio ao fim. Sozinhos.
As máscaras escondiam os sorrisos, mas o brilho dos olhos iluminaram a sala.